domingo, 15 de fevereiro de 2009

TDAH




TDAH,


por Sam Goldstein:
A existência do transtorno do déficit de atenção/hiperatividade como um distúrbio clínico é irrefutável. Apesar da etiologia e do perfil sintomático permanecerem em constante debate, os sintomas e conseqüências do TDAH são facilmente observáveis.
Embora teorias retratem o TDAH como um transtorno do desenvolvimento, isto não deve ser encarado como um obstáculo para aceitarmos tal condição como um fator presente durante a vida de um indivíduo, ainda que os métodos científicos requeiram mais do que hipóteses para escrevê-lo como fato. Apesar do conhecimento de milhares de artigos que falam sobre o TDAH, a literatura é escassa quando se trata de tal distúrbio em adultos.
A quantidade destes estudos vem aumentando significativamente ano após ano, inclusive estudos longitudinais que mostram o distúrbio da infância até a idade adulta. Cada uma destas publicações envolvem a promessa de novos dados sobre o comportamento do TDAH na fase adulta. O tempo determinará quais caminhos seguir e quais serão os resultados finais.
Infelizmente, as publicações atuais do TDAH em adultos não são baseadas em dados científicos, e sim, em "impressões" clínicas de determinados profissionais. Tanto na prática clínica quanto nas pesquisas, há incompreensão quanto ao processo diagnóstico, particularmente no que se refere ao fato de que um conjunto de sintomas presentes na infância pode estar presente também na fase adulta.
Por exemplo, algumas pesquisas sugerem, baseadas em revisão de literatura, que à medida que o indivíduo envelhece (quanto mais anos se passem), os sintomas que são encontrados facilmente na infância tornam-se "encobertos", mascarados. Porém, quando dados são coletados levando-se em consideração o sexo do indivíduo e sua evolução cronológica, fica claro que os sintomas do TDAH persistem e causam prejuízo para um grupo significativo de adultos. Estes adultos referem problemas psicológicos, apresentam mais dificuldade para dirigir e freqüentemente mudam de emprego. Também com freqüência referem uma experiência educacional inconsistente e casamentos múltiplos. Não estou sugerindo que seria impossível para alguém com TDAH obter um título de graduação ou manter um relacionamento estável, digo apenas que estes indivíduos terão mais dificuldades de consegui-los do que um adulto normal na população geral.
A natureza biopsicossocial do distúrbio através dos anos tem se tornado aparente e de forma crescente, nos últimos 15 anos. Adultos com TDAH demonstram maior dificuldade quando perdem a atenção, pois não conseguem mudar de tarefa ou desviar sua atenção para um novo assunto satisfatoriamente. Quando submetidos a testes neuropsicológicos, freqüentemente apresentam dificuldades para manter a atenção, planejar uma ação, organizar o raciocínio, lidar com pistas visuais e manter a atenção auditiva. Alguns pesquisadores sugerem que o TDAH pode refletir um padrão mal adaptado de habilidades desenvolvidas baseadas em um modelo de evolução, mas a literatura sobre isso é limitada.
Não há estudos que revelem qualquer vantagem que indivíduos com TDAH apresentem sobre indivíduos normais. Além disso, o crescente reconhecimento de que o distúrbio reflete não só um problema de atenção, mas também um problema de auto-regulação ou autocontrole fornece algumas hipóteses para explicar uma infinidade de problemas geralmente identificados em adultos com história de TDAH.
Isso explica que, além de desenvolver e adaptar um valiosos leque de qualidades, indivíduos com TDAH sofrem uma "fraqueza" para desenvolver uma auto-regulação e funções executivas eficientes.
É estimado que aproximadamente um terço dos adultos com TDAH progride satisfatoriamente em sua vida adulta. Outro terço destes adultos continua apresentando alguns problemas, enquanto que o último terço deles freqüentemente desenvolve alterações significantes. Levando-se em consideração estudos com resultados bem conduzidos, conclui-se que 10% a 20% dos adultos com história de TDAH apresentam dificuldades; 60% continuam apresentando sintomas de TDAH e experienciam problemas emocionais, acadêmicos e sociais pelo menos em nível leve a moderado. Finalmente, 10% a 30% desenvolvem problemas anti-sociais ou outras co-morbidades como ansiedade e depressão.
Muitas dessas dificuldades estão ligadas a continuidade, severidade e persistência dos sintomas do TDAH. Estudos estão demonstrando que adultos com TDAH relatam os mesmos sintomas descritos quando a patologia é diagnosticada na infância, mas o impacto desses sintomas em suas vidas é diferente. Além disso, pelo menos em grau leve, a maioria dos adultos da população geral relata alguns sintomas relacionados com falta de atenção e controle de impulsos.
Um crescente número de autores que pesquisam o modelo de desenvolvimento tem demonstrado que certos comportamentos que se apresentam na infância podem prever, de modos geral, risco de problemas na idade adulta assim como identificam fatores que reduzem o risco e aumentam a chance de uma transição satisfatória para a idade adulta.
De modo geral, alguns fatores que favorecem ou protegem a criança de alterações psiquiátricas também envolvem a criança com TDAH (atualmente os dados são limitados quanto a tais fatores específicos para o TDAH). Fazer parte de uma família com condições mínimas de sobrevivência (acima do nível da miséria), com pais livres de problemas psiquiátricos e emocionalmente e fisicamente presentes na vida da criança são fatores que predizem um bom desenvolvimento.
Especificamente no que se refere ao TDAH, o desenvolvimento de comportamento agressivo, depressão e abuso infantil pode aumentar o risco de desvios na idade adulta. Outros fatores que podem interferir no desenvolvimento infantil são pais portadores de psicopatologias, dificuldades de aprendizagem e cognição diminuída. Há uma tendência que sugere que a combinação de medicação, terapia cognitiva e treinamento de algumas atividades seja benéfica para adultos com TDAH.
Dr. Sam Goldstein é Editor-chefe do Journal of Attention Disorders Co-Editor do Attention Magazine, as revistas mais conceituadas nos Estados Unidos sobre o TDAH. Ele também é Co-Editor da série The Guilford Press, Risk and Resilience. Escreveu inúmeros artigos, textos e livros e é respeitado em todo o mundo como especialista em TDAH.

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